quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Reféns do Capital de Boa Vontade

No recente conflito em Gaza, os governos Português e Brasileiro, por uma vez foram muito semelhantes na sua reacção.

Não é relevante para este blog discutir a validade das posições dos beligerantes. Interessa-nos apenas analisar as do mundo lusófono.

Ambos os governos se declararam neutrais e apelaram ao fim das hostilidades. Até aqui muito bem; se de facto não há interesses a defender, porquê tomar partido? Faz-se o politicamente correcto que é manter a neutralidade.

No entanto, esse não foi o caso, pois tanto o Palácio das Necessidades como o Itamaraty se deram ao trabalho de incluir nos seus comunicados os termos “desproporcionalidade” e encetaram iniciativas de claro apoio moral ao lado Palestiniano. O Brasil com o envio de ajuda humanitária e encontros com personalidades muçulmanas entre as quais dignitários Iranianos, e Portugal com a declaração de indisponibilidade dos aeroportos Portugueses em receber qualquer voo de abastecimento logístico aos beligerantes (i.e. as Lajes a Israel).

Porque é isto negativo? Porque a neutralidade vai inerentemente pela janela fora.

É mais do que óbvio que não existem quaisquer interesses Portugueses ou Brasileiros no Levante. As relações comerciais não são significativas e a relevância política idem. No caso de Portugal poderá ser argumentado que a política mediterrânica poderia estar em jogo mas de facto esta política foi construída apesar do conflito Israelo-Palestiniano e não com ele.

Assim, a única ordem de ideias que explicará razoavelmente a parcial tomada de partido a favor do lado Palestiniano é, como o título indica, a preservação do tal “capital de boa vontade”. Porquê? Porque sem esta boa vontade (acrescente-se Islâmica), a campanha do Brasil para aceder como membro permanente, ao Conselho de Segurança e a candidatura de Portugal a membro não permanente do mesmo órgão, perderiam força (por outras palavras, as dezenas de votos do bloco Islâmico).

Enquanto que o Brasil é uma força incontornável do sistema da ONU, Portugal tem menos influência. O Brasil pode-se dar ao luxo de não ser estritamente neutral. Poderá Portugal?

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